quarta-feira, 25 de junho de 2008

O mago


... E o mago Sidelar - demiurgo de si mesmo - que a tudo observa de sua bola de cristal (arquiteto do castelo e seu primeiro ocupante), que a tudo conhece e reconhece, sejam os caminhos e passagens secretas entre o céu e a terra, vive em seu reduto secreto, jogando seus dados em seu tabuleiro mágico. Ali, as pessoas parecem personagens e as personagens tornam-se pessoas. Só o mago sabe distinguir uns dos outros, pois conhece e reconhece todas as entrelinhas do tempo e do espaço.

No buraco da minhoca , Sidelar atravessa os confins do mundo e do tempo. Aquele mundo para ele é um jardim secreto, em que o castelo de Messiter é a jóia rara da coroa, uma pérola dentro de uma concha misteriosa. E ali dentro do castelo há que se buscar pela verdadeira rosa. A rosa tatuada em uma de suas prisioneiras. Entre a torre e a masmorra, a rosa jaz prostrada. E o "claro enigma" é feito de prosa & verso. Caberá ao cavaleiro da espada em cruz ou ao poeta quase profeta decifrá-lo antes que seja tarde demais... A ampulheta dos dias foi virada mais uma vez, e os dados foram jogados no tabuleiro em forma de mini mundo...

Sidelar faz a pena em sua mão voar ao escrever as palavras ditadas pelo vento constante em torno do castelo. Um vento que sussura uma canção em forma de oração, de um menestrel chamado Ritov Milar, que vez em quando assombra o castelo de Messiter com sua flauta encantada, sem que os soldados - com ordem expressa do rei para sua prisão - saibam de onde vem e para onde vai... E a canção ecoa:

Se um dia qualquer
Tudo pulsar num imenso vazio
Coisas saindo do nada
Indo pro nada
Se mais nada existir
Mesmo o que sempre chamamos real
E isso pra ti for tão claro
Que nem percebas
Se um dia qualquer
Ter lucidez for o mesmo que andar
E não notares que andas
O tempo inteiro
É sinal que valeu!


A rainha Tristeza, presa em seu quarto de cristal tem a impressão de que a música encantada, que quase lhe faz levitar e sentir de novo pulsar o frágil coração, sempre vem do bosque sem fim, como que brotasse do meio das árvores. Como se o espírito de um deus estivesse a lhe acompanhar os passos em círculos dentro daquele quarto crespuscular...

Observação: Imagem acima, feita especialmente para o RPG, por Jouber D. Cunha .

terça-feira, 24 de junho de 2008

A jovem de preto


Talvez aquela fosse a noite mais fria do ano. O arfar de sua respiração fazia com que o ar pudesse ser visto. O sangue, fervia nas veias. Ela sabia que precisava fugir, só não sabia exatamente para onde. Já não queria mais fazer parte daquele mundo, não queria mais dançar aquela dança e muito menos rezar aquela prece. Precisava fugir.
Porém, não era tão fácil assim sair dos domínios daquele reino. Era um reino que obrigava-a ficar por ali não com uma autoridade materializada, talvez um sentimento de que aquele reino era seu lugar, apenas isso. Estava confusa demais para ficar. Resolveu tentar achar uma rota de fuga. E tinha que ser já.
Correndo vagarosamente em silêncio gritante, foi-se a moça de preto, cuidando cada passo para que não fosse vista.
Quando estava quase chegando à ponte elevadiça, repentinamente, a porta abriu-se. Ela não identificara quem estava ali absorto a olhá-la. Assustado, suando frio e parecia deveras encantado. Ela simplesmente o olhou nos olhos e seguiu seu caminho.
Os passos dele cobriam os seus passos, ela sentia mesmo não conseguindo escutar tais passos. E como se já soubesse o que iria encontrar no fim da linha, deixou com que ele viesse, tão sem rumo quanto ela, para viver em liberdade na mais divina das prisões...

Observação: Imagem acima, criada com exclusividade para o RPG por Jouber D. Cunha

domingo, 22 de junho de 2008

O soldado


Seguiu tenso pelo caminho da sombra que vira, entre as árvores e animais da noite, levou inúmeros sustos, ao longe começou a escutar alguns grunhidos, que logo foram ficando mais nítidos, era alguma espécie de canto e junto as batidas esparsas de um tambor, ele sentia que estava chegando próximo ao local em que o vulto estava. Em poucos metros do local pôde avistar a luz de uma fogueira, de repente um grito, a cantiga cessa, um uivo ao longe, e em seguida gargalhadas sem fim, ele estava atrás de uma moita, mas não resistiu e aproximou-se, ficou ali, atrás de uma árvore com um tronco voraz, espiava aquela cena e não acreditava no que estava acontecendo, era uma espécie de ritual, várias tochas formavam um círculo, uma fogueira no centro e vultos de preto a volta formavam uma cena sinistra, de pés descalços logo percebeu que eram mulheres que estavam naquele lugar.


Acima da fogueira havia um caldeirão de ferro muito grande, e seus olhos voltavam para ele, a curiosidade de saber o que havia de tão quente dentro daquele caldeirão estava terminando com sua paciência, mas conteve-se por um momento para espiar o que as moças faziam aquela hora da noite. Começaram a cantar de novo e o tambor começou em um ritmo mais acelerado, elas apontavam para o céu e em roda louvavam as duas luas, a canção termina e uma delas grita fortemente, começava uma oração em língua estranha que o soldado ficara espantado com o tom de voz que saia daquela boca no meio da noite, parecia alguma coisa que vinha de outro lugar...



Ao terminar a reza a moça pega uma tocha e vai em direção ao soldado, espantado, ele agacha com rapidez, começa a suar frio, mas a tocha é colocada na árvore que ele estava escondido, e ela volta ao círculo e começa a mexer no caldeirão. Ele levanta e sem tirar os olhos observa, bacias de barro estavam sendo distribuídas entre as jovens, em fila organizaram-se para serem servidas por sua líder, enchia as bacias e elas voltavam a roda, sentadas com a bacia em frente. Começaram a tomar aquele líquido quente e o soldado ali, curioso. Como a tocha estava bem a sua frente não podia ser visto, mas com a luz que ela aclamava muitos insetos começaram a incomodar o pobre soldado, ele não se conteve com o ferrão de um inseto esquisito que rondava o vento daquele castelo e soltou um barulho de profunda dor, logo todas as moças olharam para o local de onde vinha aquele barulho, levantaram-se depressa, algumas pegaram as tochas, outras lanças, e todas juntas caminhavam em sua direção, olhando espantado o que estava acontecendo sem dúvidas pôs-se a correr em meio ao mato. Os vultos se espalhavam mato a dentro e apenas enxergava o clarão das tochas, ele corria desesperado rumo ao castelo, ofegante e com muito medo, havia perdido a sua espada no meio do percurso, mas segurava com furor sua cruz. Chegava ao final do bosque, e no meio do campo, perto do castelo, depara-se com a figura da Rainha na janela da torre em seu quarto de cristal, contempla por alguns segundos aquele momento, olhou para trás, já não haviam mais sinais dos vultos...


Observação: Imagem acima, criada especialmente para o RPG, por Jouber D. Cunha.

sábado, 21 de junho de 2008

Luzes e sombras

Era um tempo nebuloso, vivido entre a magia e a superstição. Os ventos uivantes competiam com os lobos, que reunidos em círculos, pareciam chamar pelos nomes daqueles que estavam marcados pelo destino.

No céu duas luas, em formação de móbile, apareciam e se escondiam entre nuvens espessas, enquanto dois escudos de fogo sobrevoavam o castelo sem emitir som. O jovem guarda, próximo às torres do castelo viu aquela aparição com profundo espanto. Fez o sinal da cruz e pegou sua espada brilhante. Os escudos caíram próximo ao bosque, onde enormes e misteriosos vultos apareciam entre as árvores. Pensou ouvir cantos profanos e gritos sobrenaturais. Uma revoada de pássaros cortou o silêncio da noite. O soldado segurou com a mão esquerda firmemente a cruz sobre o peito (e com ela o seu segredo) e com a mão direita empunhou a espada circulando, do alto, pelas muralhas do castelo, tentando observar melhor o bosque infernal.

No salão oval, o bispo jogava xadrez com o rei insone. No estábulo, os cavalos aparentavam impaciência. E a rainha vivia aprisionada em seu quarto de cristal.

O soldado, com sua cruz em forma de chave, desceu as escadarias da muralha, indo até um portão secreto, próximo à ponte elevadiça. Ao abrir a porta, assustou-se com duas sombras que passaram por ele apressadas. A primeira a própria, e a segunda de uma jovem vestida de preto, que entre as sombras e luzes do bosque desapareceu assim como surgiu... Olhou para trás e viu o imponente castelo e na muralha, em seu lugar, outro guarda procurando pelo desertor... Sua ação de deixar o posto não tinha mais volta. Então, virou-se em direção ao bosque, pisando sobre as pegadas da mulher que o encantou... A noite estava fria, mas o tremor que sentia era por outro motivo, que naquele momento ainda não podia precisar...

Reino de estranhos

Precedeu às colheitas uma noite alta e sem estrelas, e havia o vento fino preenchendo os espaços entre as árvores antigas e os muros que cercavam o castelo, como braços gordos envolvendo um recém-nascido. O Reino de um vermelho aceso se estendia até a linha atrás de onde o sol se guarda, carta em envelope, semente na terra, e lembrar da terra era intuir tensões naquelas bandas.

Os dias há algumas estações cobriam-se de cinza e as noites eram profundamente negras nas redondezas. Às escondidas, refinava-se uma feitiçaria no interior da gruta escavada em segredo por mãos femininas.

Badaladas secas do sino da catedral rasgaram o escuro e instantes depois as correntes que suspendiam o portão o fizeram descer e acomodar a ponte por onde cavalos saíram apressados. Distante dali, mulheres dançavam descalças ao redor de uma fogueira tímida encoberta pelas árvores oportunamente cravadas justo à entrada daquele templo improvisado.

Uma coruja enrolou-se em si mesma e em alguma parte o lobo cinza uivou. No mesmo instante, calafrios percorreram as espinhas das jovens pagãs e dos cristãos conduzidos pelos cavalos do castelo.