sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

O "velho moço" e a garrafa quase vazia

Prodigal, cansado da viagem e com fome, decide descer do cavalo.
Como Serena continuava a observá-lo de dentro da casa, o jovem retira o elmo, joga ao chão o escudo e a lança, além da espada. Desarmado, ouve a porta da casa se abrir aos poucos... Lá de dentro sai uma bela mulher de cabelos dourados e olhos brilhantes.

Prodigal, que sempre foi um jovem de poucas palavras - ainda que em seu interior corresse um rio de ideias e sonhos -, não sabia o que dizer a mulher. Nem sabia se ela o entenderia. As mulheres daquele reino de estranhos não conheciam sequer os nativos com quem conviviam, quanto mais os viajantes, que vez por outra ali apareciam.

Por baixo da armadura, o jovem usava sua roupa de serviçal, e assim ficou, para descansar do peso e deixar a alma não tão pesada e dura, escondendo aquele fardo a ele imposto pelo destino, dentro do oco de uma árvore ao lado da casa da mulher encantadora. Sabia que de dia corria perigo, mas a noite, a escuridão era sua inseparável companheira. Seu rosto e corpo, longe do Lago Azul Profundo, envelheceram anos em pouco tempo...

O fiel escudeiro, agora feito Cavaleiro do Dragão Negro por força da fatalidade, pediu para provar daquele prato na janela esfriando. Serena compreendeu bem seus gestos e cortou grossa fatia para o viajante de cabelos grisalhos. Sua fama precedia seus passos naquele reino. Ela, como a maioria da plebe, sabia de suas andanças, aumentadas pelo clero e pela nobreza.

O homem sedento pediu a mulher água para se lavar. Ouvindo de imediato palavras que não soube traduzir. Parecia para ele grego, e de fato eram, um grego antigo:

- "ΝΙΨΟΝ ΑΝΟΜΗΜΑΤΑ ΜΗ ΜΟΝΑΝ ΟΨΙΝ." (Lava também teus pecados, e não só o rosto). Serena, a mulher de cabelo de fogo, como Sol, falava várias línguas, fruto de suas andanças (Insônia, a mulher do brilho de lua, mais o latim). Naquele reino muitas línguas eram faladas, mas poucos conseguiam se fazer entender.

Quando, após ela repetir pausadamente a frase, ele lembrou-se de um verso que seu Senhor, Lord Drago, sempre recitava, antes de ler o seu Livro do Destino: “Começar já é metade de toda ação”. De fato não era poema e sim um provérbio grego.

Mesmo ele não entendo nada, Serena, por linhas tortas, percebeu aquele desencontro e soube se fazer compreender na total incompreensão daquele tempo e reino. Aquela mulher que falara pela primeira vez em grego com ele, percebendo que Prodigal não a entendia, passou então a falar em latim, e ai estabeleceram uma cordial conversa até que a lua no céu começou a surgir entre os galhos das árvores do Bosque Sem Fim.

Prodigal tinha envelhecido um pouco na viagem e o cansaço fez que o mesmo adormecesse no alpendre da casa de Serena, sendo observado por ela, até que ruídos vindos do Bosque a afugentaram para dentro de casa.

- “Que aquele que ouve, desperte de seu pesado sono” - escrito no livro Apócrifo de João -, foi o que o soldado do castelo de Messiter disse a Prodigal, com uma lança encostada em seu peito, despertando-o de supetão.

- Quem são vocês?, perguntou o escudeiro, para sua sorte, sem a armadura e com as armas recolhidas por Serena.

- Nós é que fazemos as perguntas!, exclamou em tom irritado o chefe da guarda, continuando em tom áspero -, De onde vens e para onde vais? Cadê o Cavaleiro que as pegadas do cavalo negro trouxeram a ti? Diga-me logo velho louco, antes que minha espada faça você confessar!

- Velho? Eu? - disse Prodigal, espantado. Mas ao ver seu reflexo reluzindo na armadura dos soldados caiu em si! Sua aparência era realmente de alguém muito mais velho que ele mesmo conhecera.

- Claro! Você, seu velho louco! Por acaso te consideras um garoto? Esse é de fato um velho doido, não percamos tempo com ele, homens, sigamos as marcas que levam de volta para o Bosque Sem Fim.

Quando os soldados, após revistarem a casa de Serena e nada encontrarem nem mesmo a própria, partiram a galope. E o “velho moço”, sem ver sinais de Serena, pegou a velha garrafa, em seu poder e tomou um longo gole pra matar a secura que se fez dentro dele. Em seguida, continuou deitado ao chão por alguns momentos, recuperando-se do incrível cansaço que sobre ele pairou! Quando de repente um soldado retornou para averiguar a situação e supreendeu-se com o que viu.

- Ei, garoto! Onde está o velho louco que acabamos de deixar aqui? É seu parente?

Numa incrível rapidez de raciocínio, o escudeiro disse que sim, que era seu pai, e que tinha também entrado no Bosque e deveria estar perdido, pois de fato era um louco.

- Você é muito parecido com ele mesmo! Incrível semelhança, apesar da diferença de idade. E dito isso, o soldado de espada em punho virou-se e desapareceu em seguida dentro do Bosque...

Sem Serena, que desaparecera por encanto, e com a noite já cobrindo aquele local, Prodigal passou a entender melhor a magia d' O Lago Azul Profundo, que o fazia jovem próximo, e velho quando distante. Sorte a sua que ainda tinha mais alguns goles d'água da misteriosa garrafa, que armazenou por muito tempo o papiro contendo o Livro do Destino, que estava agora guardado no interior da armadura... O homem, despido dela era frágil; dentro dela sua alma era dura, sua coragem imensa, não tinha limites para o seu destemor.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

A magia de Sidelar

Após procurar durante muito tempo o último ingrediente que faltava à sua magia, uma porção de gosma quântica, o Mago Sidelar finalmente preparava-se para realização de seu experimento para localizar a Bola de Cristal roubada de seu laboratório. Neste momento, apenas aguardava as 22 badaladas do Castelo de Messiter naquele Reino de Estranhos, apesar de estar muito preocupado com o sumiço de sua preciosa bola, havia algo que ele achava estranho por aquelas bandas do castelo, pois os guardas haviam procurado por todo o Reino, e ainda havia uma boa recompensa para quem a entregasse, desta forma, sua intuição batia-lhe o medo de que seu segredo e poder fosse revelado.

22 badaladas... e ele começara sua magia...

Em seu laboratório, em um caldeirão de barro, depositava os ingredientes na seguinte ordem: um punhado de escamas de serpente, dois punhados de casca de cinamon, um punhado de folhas de violetas selvagens, duas pedras de breu, sete gotas de água do mar e por último a porção de gosma quântica - durante este ritual processava em tom agressivo as seguintes palavras:

- Reis dos Reis! Senhor dos Senhores! Espectro inverso que revela aos cultos a riqueza perdida... Agnus... Primmus...

Repetiu tais palavras muitas e muitas vezes, ocorrendo uma explosão e a aparição em meio a fumaça de sua Bola de Cristal em uma mão jovem que a ostentava em frente ao mar e as duas luas no céu a iluminavam. Assim, não conseguira ver quem estava com sua bola, nem o local exato de onde ela se encontrava, apenas soube que estava perto do mar.

No dia seguinte, ordenou que os soldados invadissem as casas que ficavam perto do mar na esperança de encontrar a bola, mas foi totalmente em vão, os soldados nada encontraram. Frustrado e preocupado com a situação, sentiu-se acuado e de vasto pensamento, não lhe restava outra alternativa senão procurar seu grã-mestre, mas a única maneira de invocá-lo era através de forças malignas o que punha em jogo sua existência, então resolveu esperar por um tempo, e refletir se tal invocação lhe seria cabível, visto que, até o presente momento, nada de mal lhe acontecera com o sumiço de sua Bola de Cristal.