segunda-feira, 14 de julho de 2008

A rainha


Do interior desse castelo opaco emerge este novo onde reino em silêncio e vertigem: o quarto de cristal e memórias do infinito em que habito só e cinza. Não faz muito vi pela janela central a figura de um homem que se desdesenhava no tempo. Um soldado de nossa armada, certamente, outro infeliz a quem as lanças não demoram levar... Desde um ontem, tramado pelas linhas do invisível em meu destino, ela vem e me visita noite após noite para em seguida apagar-se no ar, deixando em meu espírito essa saudade arranhada.

Mil luas gêmeas rezei inteira e implorei o perdão dessa louca andarilha, que insiste em me perseguir nesse mundo e em outros em que surjo nua e sem explicações. Não compreendo o quando nem o porquê de meu acesso a esses domínios tão distantes do meu, mas começo a me acostumar. Um quarto minguante ou mesmo os solstícios me carregam fundo para uma dessas escusas dimensões que abrigam o nosso encontro.

Já quis com força sair daqui e dançar novamente, descalça sobre a areia clara, e com a alma leve atada à minha ancestralidade legítima. Uma viagem mais, implorei insana ao ar noites a fio. Por mim e por ela, cantei alto e sussurei e escrevi nas paredes e no meu próprio corpo as palavras que não me saem do sangue

Ó Céu da noite crua
As luas infinitas em mágica
Somos todas mulheres de luz
Com teu manto abençoe nossas almas
E nossos corações sofridos
Aceite nossos cantos
Toda a fé e esperança que depositamos
Somos todas suas ó Luar


Vazio e desistência. A mim que já chamaram Esperança hoje alcunham Tristeza. Decidi que não me abala a ingorância dos comuns, especialmente porque descobri em mim portas insuspeitadas, que inauguram liberdades acolhedoras e justas a quem tem olhos humanos cansados desse mundo.

Volto à janela com a insistência descuidada do desalento e, novamente, lá está ele. Parece que guarda o desajuste dos meus passos. Mal sabe, pobre diabo, dos poderes que tem. Bastaria intuir a minha proximidade e nele estaria eu, disposta ao sorriso, instalada no campo aberto que é o pensamento desse homem simples e transparente como as paredes que me cercam.

Assim tenho sido desde que aprendi essa estranha maneira de fugir. O solstício, que marcou a chegada da estação do trigo novo, lançou-me exatamente onde juro que a vi pela última vez: naquele sonho branco.

Observação: Imagem acima, ilustração feita especialmente para o RPG, por Jouber D. Cunha.

3 comentários:

Jow D. Cunha disse...

Andréia muito legal e muito inspirador também!!!
Parabéns pessoal cada vez melhor.
E que rolem os dados!!

Ana Matias disse...

Show de bola!! Tá cada vez melhor este jogo!! ÊÊÊÊÊÊÊÊ

Jow D. Cunha disse...

Olha meu nome ali!!!
;)
Valeu pessoal me sinto honrado em desenhar as personagens!!