sábado, 30 de agosto de 2008

Pequeno mundo pequeno

Todo estrangeiro é um estranho em uma terra que não é a sua. Terra mais estranha ainda para quem está chegando ou só de passagem. Se cada pessoa contém um pequeno universo interior, um Reino de estranhos carrega em si diversos mundos e pessoas, cada um com suas luzes e sombras, suas espadas e cruzes em uma longa jornada.

Prodigal – um estrangeiro que causa estranheza por onde passa -, diante do corpo sem vida de Lord Drago, seu amo e Senhor, não sentiu-se mais sozinho no mundo, pois a solidão tem sido a sua eterna namorada e companheira de viagem desde sempre. Naquele instante de dor um vácuo contornou seu corpo e o silêncio ficou agachado ao seu redor...

Mesmo Lord Drago tendo sido quem o criou, quando sua mãe Alma morrera sem ninguém esperar e sua tia Vida enlouqueceu sem explicação, aquele cavaleiro era para o fiel escudeiro uma grande incógnita e um quase desconhecido. Imenso, em sua armadura negra e alma dura de tanto guerrear pela bandeira dos outros, vivia o Lord envolto em mil e um segredos e medos. Frio e distante, às vezes, como uma muralha intransponível, noutras cândido e fraterno como um peão, o jovem pouco sabia da vida de seu Senhor, apenas que todo cavaleiro do dragão negro – e já foram muitos desde o início dos tempos – deveria zelar pela Irmandade do Vento; um grupo de cavaleiros que combatia a temível Ordem do Tempo... Entre as poucas coisas que Drago lhe contara estava o fato de que todo cavaleiro da Irmandade do Vento precisa, antes de sair em longa jornada, escolher o fiel escudeiro, para que ao morrer em batalha este o substitua e continue o mito de sua imortalidade. Era o pacto feito entre amo e servo, desde o início dos tempos da irmandade... Dessa forma o escudeiro era iniciado n'A grande verdade, sabendo que um dia O Livro do Destino teria que ser por ele guardado com a própria vida.

Prodigal sabia que Drago era o sétimo cavaleiro da irmandade do Vento, e que quando ele morresse deveria procurar um dos seis restantes, que conheciam cada um mais seis nomes de cavaleiros, e estes mais seis e assim por diante, na grande teia de aranha do brasão daquela comunidade secreta, que se reunia vez que outra num local remoto, para escrever enigmáticos poemas em forma de criptogramas, que só os integrantes d'A Grande Teia podiam entender... Os seis cavaleiros eram: Capablanca, Luminet, Morphy, Binet, Steinitz e Groot. Tinham outros, como Sessa, Philidor, Shannon, Damiano, Filguth, Polgar e Fine, mas esses o escudeiro - um iniciado nos segredos da Grande Biblioteca Universal, do mago Borges, como Lord Drago também se referia à irmandade do Vento - desconhecia a existência. A cada sete cavaleiros estes só conheciam um degrau além do que estavam, e o outro assim por diante, de forma a manter aquela pequena legião de guerreiros longe das perseguições da Ordem do Tempo, que como o próprio nome demonstrava, desejava controlar a qualquer custo o tempo e o vento... Esta ordem tinha como insígnia uma imensa ampulheta com um gigante de um olho só aprisionado em seu interior.

O escudeiro ajoelhado ao lado do corpo de Drago – pensando em quem deveria escolher para seu fiel escudeiro - viu uma pequena concha flutuando ao redor. Ao pegá-la com a mão esquerda e levá-la ao ouvido, por conta de um estranho ruído, descobriu que a tal concha parecia conter em seu interior o som de uma diminuta gruta escura e funda em que sua mãe Alma dizia que seu verdadeiro pai Sem Nome tinha se perdido para sempre, num pequeno labirinto construído por ele mesmo e que de lá jamais se encontrara tampouco retornaria ao mundo dos vivos... Se aquela concha podia carregar dentro de si um pequeno pedaço de mar, Prodigal passou a acreditar piamente que aquele Reino de estranhos poderia estar encerrado dentro de uma pequena bola de cristal, como que se o particular pudesse conter em si o universal...

6 comentários:

Jow D. Cunha disse...

to dizendo que vocês são umas maquinas!!!!
aheahehahehae
Mais desenhos...eeeeeee!!!

Ana Matias disse...

O Jow vai ter que ligar o motor a todo o vapor, pelo jeito! =)

Zé!!! Adorei, o pai "Sem Nome" se perdeu para sempre mesmo, não sei se tem algo a ver com o meu poema, mas a tua intuição anda muito aguçada! =D

Muito bom!

Jow D. Cunha disse...

Pior!!!

José Antonio Klaes Roig disse...

Pois é, Ana. Nossa turma RPG é extremamente intuitiva. Ao cntr´pario do jogo de cartas e a versão eletrÔnica que existe um Mestre que coordena as ações, e que existem estratégias, nosso RPG como é uma proposta literária, feita por escritores e poetas, não poderia de fugir ao lado intuitivo mesmo. O pai Sem Nome, por enquanto será só pra mãe e filho (e leitores! hehehehe), até que no desencadear da história todos venham a conhecer sua identidade... Remete a outras referências que vou largando aos poucos. Como te falei noutro dia, estou adorando produzir coletivamente, pois a cada postagem que aguradamos intuitivamente tb um ou outro publicar, vai ampliando leque de leituras e escritas que fazemos de nossos próprios personagens, enriquecendo a narrativa. Somos inter e hipertextuais. hehehehe
Quanto ao Jow, pois é, como "tiozinho" da turma rpgiana, fraternamente vou "puxar a orelha dele" e online, pois sou ainda do tempo dos cavaleiros, em que promessa é dívida. Nada de promessas nem cobranças, mas se prometer deve cumprir! Senão a Irmandade do Vento vai mandar um membro (no bom sentido) atrás dele. hehehe
Boas leituras, desenhos e escritas a todos. Zé.

José Antonio Klaes Roig disse...

Oi, pessoal, com menos de 3 meses e já tivemos mais de 1.000 visitas ao blog. Uhuuu. Belo começo. Parabéns a todos nós. Um abração, Zé.

Ana Matias disse...

Parabéns!

Beijokas!

VIVA O RPG! =D